Você provavelmente já ouviu a "música do MacGyver", Tom Sawyer. Ela é uma das mais conhecidas da banda Rush pelo público em geral, mas não tem apenas a participação na abertura brasileira do seriado "Profissão: Perigo" como feito notável. Além do sucesso da composição em si ao ser lançada (e até hoje), a letra é inspirada em um dos personagens mais importantes da literatura norte americana.
O menino travesso que dá título à música é protagonista em 3 livros do autor Mark Twain, são eles: As Aventuras de Tom Sawyer, As Viagens de Tom Sawyer e Tom Sawyer Detetive, todos livros "infantis". O escolhido para esta postagem foi o primeiro a ser publicado, As Aventuras de Tom Sawyer.
Criado pela tia Polly, Tom é órfão e vive com a tia e seu irmão de criação em uma aldeia de São Petersburgo. O livro relata a fase de transição de sua infância para a pré-adolescência, quando ele se descobre apaixonado, mas ainda tem dentes de leite a trocar, e tem independência para ir ou não à escola, mas fica de castigo caso não vá. Ele e seu amigo Huckleberry Finn, um menino que não frequenta a escola e acorda à hora que quiser, consentiram em testar um tipo de cerimônia para "secar" verrugas, que demandava: estar no cemitério à meia noite, e ter um gato morto. Antes que eles iniciassem o processo, pessoas se aproximaram da sepultura em que eles estavam e os dois meninos presenciaram um assassinato. Magoados com o progresso dos fatos, eles se sentiram obrigados a tomar difíceis decisões e partir para uma viagem sem um destino muito específico, apenas fugir, juntamente com um terceiro amigo, Joe Harper, que teve uma discussão com a mãe por ela achar, injustamente, que ele havia comido um certo creme que ele nem chegou a provar.
Por se tratar de um cenário interiorano, a linguagem empregada é simples, sem muito refinamento, e usam-se a palavras escritas do mesmo jeito em que são faladas, como "siora" (senhora), "trabaio" (trabalho), "corage" (coragem), para conceituar certos personagens que são servos, e toda a situação recém saída da escravidão, que negava a permissão aos escravos de estudar, entre outros.
O narrador utiliza, por vezes, o direcionamento ao leitor, incluindo-o nas argumentações e fazendo-o refletir sobre determinado assunto, relembrando-o de circunstâncias que também já possam lhe ter ocorrido. As trivialidades do dia-a-dia dos meninos são tratadas como muito importantes, sim senhor, e os dramas de um menino que não entra em uma aventura em pleno sábado ensolarado são tão sérios quanto os dramas sofridos pelos adultos. Mark Twain eleva a criança a uma situação de maior importância, não apenas aquela que deve somente respeitar os mais velhos e só se apresentar quando solicitada.
Tom tem um espírito livre, faz o que gosta, e não aproveitar o dia é algo desagradável a ele, que adora fazer "barganhas" com os itens de luxo que leva no bolso (tampas de garrafas, estilhaços de vidro, pedaços de giz, cabos de faca - sem faca -, etc.), trapacear seus amigos com esperteza, inventar todo tipo de brincadeira com o que tem à mão, mas dificilmente trapaceia sua tia. A sociedade
quer que ele seja um "bom" menino, comportado, que vai à igreja, que gosta de se
lavar, que não falta à aula para nadar no rio, mas não compreende que as suas reais qualidades residem no que ele faz com toda essa energia.
Uma passagem (dentre várias) do texto chama a atenção, em que Tom está treinando um assobio novo que aprendeu com um amigo:
"Com bastante diligência e muita atenção, Tom logo pegou o jeito e seguiu caminhando rua abaixo, com a boca cheia de harmonia e a alma cheia de gratidão. Sentia-se bem do jeito que um astrônomo que acabou de descobrir um planeta novo sente. E se pensarmos simplesmente em um prazer forte, profundo e completo, a vantagem estava com o menino, e não com o astrônomo."
O álbum que contém a música Tom Sawyer é o "Moving Pictures", de 1981, que a tem como música de abertura. O que foge aos padrões na letra desta faixa é que a banda não só descreve as características de Tom, como o recria aos padrões atuais, tomando-o por um guerreiro - a modern-day warrior - que conduz o seu destino.
A estrofe seguinte mostra como é a visão de Tom sobre as coisas:
"The world is, the world is
Love and life are deep
Maybe as his skies are wide"
"O mundo é, o mundo é
Amor e vida são profundos
Talvez como seus céus são largos"
Três versos explicam porque o menino se sente desconfortável quando é "enclausurado" e tem prazer em
experimentar tudo o que há embaixo deste céu.
Abaixo, é possível compreender, mesmo sem ter lido a obra de Twain, como é a personalidade de Tom:
Abaixo, é possível compreender, mesmo sem ter lido a obra de Twain, como é a personalidade de Tom:
"No, his mind is not for rent
To any god or government
Always hopeful, yet discontent
He knows changes aren't permanent"
To any god or government
Always hopeful, yet discontent
He knows changes aren't permanent"
"Não, sua mente não está à venda
Para nenhum deus ou governo
Sempre esperançoso, ainda que descontente
Ele sabe que mudanças não são permanentes"
Musicalmente falando, o Rock Progressivo é unânime quanto à qualidade. As melodias são complexas, as faixas tendem a ser longas, o uso de teclado é praticamente imperativo... E Rush, um ótimo exemplo tanto do Rock em geral, como do Progressivo, aparece no blog com sua impecável e agradável contribuição que une música e literatura, lembrando a todos porque o nosso estilo nunca morrerá e porque o escolhemos como nosso.
Este livro é da Biblioteca Municipal da cidade onde moro. Está um pouco velhinho, mas é uma edição bonita, em capa dura, da editora Círculo do Livro, já com atividades encerradas.
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