02/10/2012

aos escritos de inverno

Prefiro o tom poético dos livros de inverno, que são tão saturados de amargura e acidez.
No verão, ele arde junto com a pele; derrete. Se esvai tão rapidamente quanto uma gota de água sob o sol quente e já não existe mais sensação. Antes de ser tocado por esta, já evaporou.
Inverno tem a cor cinza, a atmosfera cinza, pesada e acerta em cheio nos desgostos do percurso, escancarando o fantasma do que é imaterial. Tem também contração, careta, imobilidade, dor, repugnância; se os livros de verão forem lidos no inverno, se tornarão tristes e invernais, tamanho o envolvimento da estação.
A luz do verão corta, a do inverno protesta.
Há também as pessoas do inverno: contidas e desesperadas, não que essa simultaneidade seja possível. Elas também se apresentam cinzas (ou em cinzas), têm o passo lento de conformação pela má sorte, além das olheiras - e transformam o que vêem em poesia glacial. Quando estas pessoas escolhem um livro, toda a reputação de um gênero pode considerar-se nula; categorias, etiquetas, esses recursos não significam nada para um ex-livro de ficção científica, por exemplo. A partir de agora ele será drama e carregado de nuvens escuras.



*Aos  escritos de inverno participou da homenagem à Semana de Arte Moderna na Bienal do Livro no facebook: https://www.facebook.com/photo.php?fbid=560893210610004&set=a.559032560796069.131547.202336513132344&type=3&theater

*Para ver o álbum e todo o conteúdo postado, entre aqui: https://www.facebook.com/media/set/?set=a.559032560796069.131547.202336513132344&type=3

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