08/05/2016

A Jogada do Século, Michael Lewis


"Se fôssemos criar do zero um regime regulatório, começaríamos protegendo pessoas das classes média e média baixa, porque as chances de elas serem enganadas eram muito altas. Em vez disso, o que tínhamos era um regime em que essas pessoas eram as menos protegidas.
Steve Eisman é um advogado judeu (não muito adepto) formado magna cum laude pela University of Pennsylvania e com louvor pela Harvard Law School, que entrou para Wall Street por influência dos pais. Sua consolidação na bolsa de valores nova-iorquina ocorreu por mérito próprio, através de sua personalidade excêntrica no mundo financeiro. A partir da história de Steve Eisman e a relação com a crise financeira no ano de 2008, Michael Lewis escreveu A Jogada do Século.

Para introduzir o leitor ao cenário de 2008, Lewis começa na década de 1990, nas origens de Eisman e em como os créditos do tipo "subprime", que consistem em empréstimos "de risco" com política de juros diferenciada, faliu e levou ao colapso de 8 anos atrás. É revelado que esses créditos eram atingidos por altas taxas de inadimplência, porém os credores contabilizavam como lucros os valores a seres recebidos, a fim de ocultarem os prejuízos. Há também uma breve apresentação acerca de Vincent Daniel, um futuro integrante da equipe de Eisman, e a descrição de como os dois se conheceram.

O ano de 2002, mesmo tendo curta passagem no livro, é a sustentação para Steve, pois é nesse período que une a equipe para sua própria empresa em Wall Street e decide seu direcionamento profissional. Uma série de personagens (reais) são integradas à trama, que colaboram com desencadeamentos dos fatos até 2008.

O texto é fácil, o que contribui para o entendimento do leitor alheio ao tema, e por se tratar de um livro com foco na economia, Michael Lewis teve o cuidado de esclarecer termos pouco utilizáveis das ações e dos negócios e ambienta bem o leitor que não entende esse mundo. A história é contada em 3ª pessoa (com alguns registros em 1ª pessoa, que sugerem um observador externo onipresente e atuante no mercado). Os personagens não são exatamente cativantes, porém as descrições dadas são apreciáveis, despertando, inclusive, a vontade de assistir ao filme e observar a caracterização.

O texto é iniciado pela citação de Tolstói:
"Os temas mais complexos podem ser explicados ao menos inteligente dos homens, caso ele ainda não tenha uma ideia formada sobre eles; mas o assunto mais banal não pode ser esclarecido ao mais inteligente dos homens caso ele esteja convencido de que já conhece sem sombra de dúvidas o que tem diante de si."
Esse fragmento revela muito do enredo e do que se passou, segundo o narrador, até a crise, já que Steve Eisman compreendia "no ar" as facetas do mercado, tinha influência, sabia que o sistema iria ruir, mas não foi dado a ele a devido atenção.

A edição em questão leva a capa do filme, lançado em 2015 sob o título "A Grande Aposta" e, de acordo com algumas sinopses, foram modificados alguns detalhes, como nomes dos personagens para que o filme tivesse cunho ficcional. Como posfácio, leva um artigo escrito pelo autor sobre o filme A Grande Aposta. É uma leitura séria, informativa, um assunto sério, tem um contexto histórico significativo que influencia até hoje, mas não recomendado a quem espera um romance leve, ainda que não seja tão densa.
"Eisman não se lembrava exatamente do motivo pelo qual deixou Vinny esperando sem nunca retomar a ligação, da mesma forma como não se lembrava de por que levantou no meio do almoço com um CEO importante para ir ao banheiro e nunca mais voltar. Vinny logo encontrou sua própria explicação. Quando atendeu a outra chamada naquele dia, Eisman soube que seu primeiro filho, o recém-nascido Max, tinha morrido."

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