30/06/2016

Os Invernos da Ilha - Rodrigo Duarte Garcia


"Fico agora imaginando aquela cena vista do alto, como o final de um filme longo em que as coisas houvessem terminado quase bem, a tomada de câmera afastando-se lentamente, duas pequenas manchas negras sobrepostas ao campo verde-claro, o mar às costas, uma cruz solitária e o farol entre escolhos."
Primeiro romance de Rodrigo Duarte Garcia, Os Invernos da Ilha tem o estilo de grandes clássicos. Já antes do prólogo, nos deparamos com um mapa da Isla de Sant'anna Afuera, uma ilha situada na costa do Chile. O personagem principal é Florian Links, professor da área das Letras, que vai ao Mosteiro de Santa Cruz, na referida ilha, fazer uma experiência e quanto à sua vocação para a vida religiosa.

Florian tem evidente rebaixamento de humor, assim como o clima de toda a ilha denota "névoa", partindo daí uma das possíveis interpretações para o título. Um dos encontros de Links na ilha é com Phillipe Rousseau, um presunçoso professor que está fazendo a tradução dos diários de bordo de um controverso corsário que passou pela Isla de Sant'anna.

Rousseau informa os progressos da tradução do diário do tal pirata, o holandês Oliver van Noort, e a partir desse diário, Florian e uma personagem inserida no contexto (a médica Cecília) se deparam com a história de um possível tesouro a ser encontrado.

Pelo fato de se passar em no mosteiro, o livro de Rodrigo se assemelha à obra O Nome da Rosa, assim como abordagem lenta e estrutura do texto, em que o autor apresenta algumas informações intelectuais à parte. Alguns leitores podem ver nessa característica um ponto negativo. Outra proximidade ao clássico é a trama estar envolta na análise de uma obra de arte: um poema.

Para contextualizar o enredo, Rodrigo conta a história da ilha no século XV, aborda a dominação pela coroa espanhola, como o mosteiro foi abandonado e depois, reativado, o que forma uma ficção "arrematada" e bem escrita.

Histórias sobre tesouros escondidos nunca fogem à moda e, nesse caso, mostram um exemplo da boa literatura contemporânea, com feição de clássica, e brasileira, que se passa no Oceano Pacífico.

Nenhum comentário:

Postar um comentário